QUEM SOU?

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Goiania, Brazil
Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

sábado, 24 de novembro de 2012

SOBRE NOSSAS FALSAS-ELITES

Não tenho nada contra o luxo e os objetos caros que fazem o sonho de consumo de qualquer mortal. O que me descrença de nós mesmos é a indiferença indecente de nossas elites em relação aos problemas e desafios de nosso país, sua falta de pudor no trato com a coisa pública, o que nos torna cúmplices e co-responsáveis por essa pasmaceira e mediocridade. O fato é que nossas elites [economicas – políticas – intelectuais] padecem de uma grotesca ignorância e letargia, o que as impedem de propor um projeto de nação viável ao país. Os grandes centros de compra, nossos parlamentos e palácios encarnam um espírito/atitude próprios de nossas elites – a ostentação, a arrogância e a indiferença diante da maioria do povo. Como forma de forjar uma distinção ou identidade social, nossas elites humilham aqueles que considera inferiores e ostentam o que na verdade nao têm– honra, caráter, dignidade e autoridade, enfim, probidade. Compro, logo sou alguém, um cidadão. A atitude de nossas elites, ou daqueles que acham que pertencem a algum tipo de elite, seja no restaurante, no supermercado, no posto, no trânsico, no trabalho, na escola, etc. oscila entre a náusea ou a humilhação diante dos mais pobres ou menos favorecidos. O fato que pode ser constatado nas ruas, nas pesquisas [a mais recente pesquisa diz que somos um dos povos que mais consume cosméticos e se preocupa com aparência], nos locais de trabalho, lazer ou aprendizado, é que nossas elites são prepotentes, ostentatórias, vulgares, grosseiras. Profundamente racistas e herdeiras da mentalidade casa-grande, baseada na tradição e mando e concessões de favores e privilégios entre os coronéis e seus aliados. Contudo, o que há de mais pernicioso e desprezível em nossas elites é o fato delas ostentarem o que nao são - elites. As elites brasileira são anti-elites. Aqueles que pertencem às elites brasileiras encarnam valores e perversidades que são desprezados por uma verdadeira elite. <b>O sentido de uma verdadeira elite Platão pode ser considerado um dos primeiros a refletir sobre a formação/paidéia de uma verdadeira elite e em seu papel na formação da comunidade política. Para muitos, o modelo de organização social e política proposto por ele em sua obra A República é um modelo autoritário e utópico, no qual o rei-filósofo comanda e governa a massa ignara. Mas o que seria uma comunidade justa? Aquela em que os melhores [aristoi] governam com sabedoria, em que os guardiões defendem com coragem e o resto do povo age com temperânça. Portanto, a sociedade justa é aquela em que cada um faz aquilo que melhor lhe compete da melhor maneira possível. E quem ou o que vai decidir quem são os mais aptos, os melhores, para governar? O nascimento, a riqueza, a esperteza, a capacidade para falar bem sem compromisso com a verdade? Nao. A educação comum a todos ajudará a formar as aptidões discernindo aqueles que são mais aptos para governar. O fato é que nao há na formação de uma verdadeira elite uma conspiração de poucos privelegiados contra a massa ignara. O governo deve ser dos melhores, nao dos poucos. Os melhores são aqueles que abrem mão de seus interesses particulares, contribuindo para formação e harmonia do todo social depois de um longo e árduo processo de formação e seleção. A educação e formação de uma verdadeira elite de gestores e administradores públicos deve ensinar a olhar a instituição, o estado, o país como uma realidades coletivas com interesses coletivos, nao como possibilidade de enriquecimento ou engradecimento pessoal ou de grupos. Uma verdadeira elite de gestores e dirigentes sempre dará prioridade ao público em relação ao privado. São homens que nao leem em si senão os interesses de todos, nao sofrem de si mesmos, mas do homem. Uma verdadeira elite deve cultivar uma espécie de virtude que prioriza o público, o coletivo em detrimento dos interesses particulares. Essa virtude digna de uma verdadeira elite nasce de um sentimento de dever para com os outros. Somos um animal político, tendemos naturalmente à vida social, gregária. Sabemos que temos em nós o sentimento de um ser genérico que denuncia nossa pertença a uma espécie e que nos torna aptos a nos reconhecer noss outros. Partilhamos uma natureza e um destino comum enquanto povo e humanidade. Sem essa consciência de pertença a uma espécie comum, sem esse sentimento de que todos habitamos a mesma casa, não se pode cultivar virtudes sociais, educar o cidadão para o convívio harmônico com seus semelhantes, como consequência, a comunidade política tende a desagregar-se da forma mais violenta. O fato é que a quebra de confiança entre as gerações, a falta de elites e autoridades que realmente sejam amadas e respeitadas, conduz qualquer país ao abismo. Caí-se num corporativismo que sempre irá colocar os interesses ilícitos de grupos e categorias acima dos interesses de Estado e da sociedade civil. -Somente a estreiteza das mentes ignorantes nao percebem que as velhas virtudes aristocràticas [Sabedoria, Coragem, Temperança, Justiça] não incompatíveis com a ordem democrática. Para que um igualitarismo nivelador e totalitário nao devore a liberdade absoluta de todo homem enquanto ser-aí jogado no mundo, é necessário que os melhores aprendam a governar para todos com sabedoria, humildade e compaixão. O problema do Brasil, portanto, nao está em suas elites – nao temos sequer uma verdadeira elite, mas uma anti-elite que assume o aparelho de Estado e a gestão da coisa pública com o objetivo ilícito de atender apenas aos próprios interesses ou de grupos em detrimento dos interesses da sociedade. Temos uma falsa elite que prefere colocar os interesses particulares e partidários à frente dos interesses do país. O poder político é loteado entre aliados sem o mínimo critério técnico de competência para o cargo. Infelizmente, no Brasil, é o cargo que acrescenta, agrega valor a pessoa, e nao, como deveria ser, a pessoa agrega valor ao cargo. Procura-se ocupar posições de destaque na administração pública por vaidade mesquinha, desejo de status social, político e econômico e muitas outras mordomias e bajulações, raramente por interesse cívico em ajudar a maioria do povo e o próprio país a encontrar seu caminho de verdadeira nação. O fato é que não basta filantropia para pacificação da consciência culpada de cristãos, mulçumanos, budistas, etc. Não bastam programas sociais ou teses sociológicas que manipulam modelos de engenharia social. Nao basta olhar para os miseráveis e lamentar: Eles pedem tão pouco, e ainda assim lhes negamos. Cabe pois começar pelo pouco que negamos aos menos favorecidos – respeito. Prof. Dr. Wanderley J. Ferreira Jr.