QUEM SOU?

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Goiania, Brazil
Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Manifestações de Junho - 2-13



Todo apoio aos companheiros de luta criminalizados pela mídia venal e seus (de) formadores de opinão e rotulados de vândalos mascarados....
Não sei se por incompetência ou má fé, mas nossas autoridades e a sociedade em geral parecerem não querer ver que a raiva, o ódio, a radicalidade das ações dos jovens rotulados de vândalos são expressões de vida, de vitalidade de uma sociedade doente afundada no consumismo e conformada com uma vida besta sem sentido.
Esses jovens e seus  gestos aparentemente violentos trazem a esperança de que nem tudo esta perdido nessa vida cada vez mais artificializada e simulada no ciberespaço  mediante a hiper--realização do real por imagens. Autoridades e os experts ao tratarem das ações mais radicais nas manifestações, falam sempre em manutenção da ordem pública, uma ordem que só interessa à canalha no poder e ao aviltante animal de rebanho em que se transformou  o urbanoide  - essa bárbaro conectado e manipulados pelas mídias – o bom cidadão.
Quantos de nós, confessem, não chutamos, esmurramos ou jogamos um extintor de incêndio num caixa eletrônico junto com esses jovens. É certo que a violência explícita desses jovens podem assustar as ovelhas e seus pastores, mas o que falar da violência legalizada da policia, da violência surda que nos massacra através de impostos, que mais parecem um confisco,  dessa violência oficializada nos juros do sistema financeiro, na falta de saúde, educação, etc.
Por que não começar a perguntar sobre as causas e motivações que movem a maioria desses jovens? E uma atitude preguiçosa e covarde simplesmente tachá-los de bandidos. Por trás das máscaras veremos que existem pessoas normais, apenas com um pouco mais de coragem de gritar seus medos, sua falta de esperança num país governado por néscios que são legitimados no poder  por um bando da fantoches que temem a própria sombra...
O sistema, o Estado querem disseminar o medo, e nada melhor para alimentar o medo que manter as pessoas na ignorância. O Estado nos quer medrosos e ignorantes e, pior, felizes na sujeição de nossas mentes, corpos e desejos com o objetivo de manter a todo custo a ordem pública.
O que me desespera é  que, como disse certa vez Eduardo Galeano – “Estamos guardando um silêncio bastante parecido com a estupidez”.
“A ânsia de destruir é também uma ânsia de criar o novo”. Bakunin.

Prefiro ser um vandalo, que uma ovelha obediente e crente



Todo apoio aos companheiros de luta rotulados de vândalos mascarados.criminalizados pela mídia venal e seus (de) formadores de opinião e ...
Não sei se por incompetência ou má fé, mas nossas autoridades e a sociedade em geral parecerem não querer ver que a raiva, o ódio, a radicalidade das ações dos jovens rotulados de vândalos são expressões de vida, de vitalidade de uma sociedade doente afundada no consumismo e conformada com uma vida besta sem sentido.
Esses jovens e gestos aparentemente violentos me trazem a esperança de que nem tudo esta perdido nessa vida cada vez mais artificializada e simulada no ciberespaço  mediante a hiper--realização do real por imagens
Autoridades e os experts ao tratarem das ações mais radicais nas manifestações, falam sempre sem manutenção da ordem pública, uma ordem que só interessa à canalha no poder e ao aviltante animal de rebanho em que se transformou  o urbanoide  - essa bárbaro conectado e manipulados pelas mídias.
Quantos de nós, confessem, não chutamos, esmurramos ou jogamos um extintor de incêndio num caixa eletrônico junto com esses jovens. É certo que a violência explícita desses jovens podem assustar as ovelhas e seus pastores, mas o que falar da violência legalizada da policia, da violência surda que nos massacra através de impostos, que mais parecem um confisco,  dessa violência oficializada nos juros do sistema financeiro, na falta de saúde, educação, etc.
Por que não começar a perguntar sobre as causas e motivações que movem a maioria dessesjovens? E uma atitude preguiçosa e covarde simplesmente tachá-los de bandidos. Por trás das máscaras veremos que existem pessoas normais, apenas com um pouco mais de coragem de gritar seus medos, sua falta de esperança num país governado por néscios  que são legitimados no poder  por um bando da fantoches que temem a própria sombra...
O sistema, o Estado querem disseminar o medo, e nada melhor para alimentar o medo que manter as pessoas na ignorância. O Estado nos quer medrosos e ignorantes e, pior, felizes na sujeição de nossas mentes, corpos e desejos com o objetivo de manter a todo custo a ordem pública.
“A ânsia de destruir é também uma ânsia de criar o novo”. Bakunin.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Divagações noturnas



A Classe média, refém do próprio medo, e a mídia venal não compreendem que não se muda um país governado por canalhas, de instituições viciadas, com passeatas “pacíficas” e demandas difusas de grupos e pessoas bem intencionadas e preocupadas com o futuro da nação.
Muitos dos manifestantes chamados de “vândalos” apenas respondem a agressão  darecebida por uma Policia q mata e tortura. A policia que reprime manifestações e a mesma que  mata nas favelas e periferias.
Muitos dos manifestantes não percebem que com seu discurso de “paz social” e manutenção da ordem apenas legitimam a canalha no poder e as elites desse Estado policial. Esse clamor por paz social e respeito a ordem pública andam juntos com criminalização e enquadramento de jovens que ousam confrontar a força policial e atacam bancos e outros prédios públicos.
TODO APOIO AOS JOVENS CHAMADOS DE VANDALOS...”A ânsia de destruir é também uma ânsia de criar.” Bakunin.
Enquanto nossas elites, a classe média amedrontada e acuada em seus condomínios  e a mídia venal denunciam e julgam como vândalos jovens mascarados, renasce em mim a esperança na juventude...nem todos são ovelhas. Nem tudo está perdido. Repito, ninguém muda um país, com poderes corrompidos apenas com passeatas pacificas...ordeiras. Isso só interessa à canalha no poder.
Por que esse medo de sair da banalidade da existência cotidiana sufocada no impessoal? Por que essa necessidade de criminalizar e marginalizar jovens que gritam e expressam uma revolta que também é nossa, os civilizados domesticados. Esses ataques à  prédios públicos, agências bancárias, butiques, concessionárias de Carros trazem um sentido, um significado que que vai além da mera violência juvenil de jovens mascarados.
Basta dessa pasmaceira, desse medo, de lamúrias,  ressentimentos e invejas. A realidade está nos  atropelando juntamente com nossas convicções e referenciais teóricos. E sinceramente não creio mais em mudança pela via institucional, torna-se cada vez mais um imperativo quebrar os contratos, subverter as leis e des-construir as instituições, seus discursos articulados com determinada noção de verdade e com o poder. Não precisamos de guias, gurus, modelos teóricos e métodos consagrados que prometem reconciliam aqui ou no além a dilacerações próprias da existência humana.
Os partidos, os três poderes e as instituições ditas democráticas estão viciadas e infestadas de ratazanas. E não me venham falara nas exceções e que fazemos parte dela. Isso de nada vale. Nossos palácios, parlamentos, igrejas e escolas estão repletas de homens de segunda mão, filisteus da cultura (Nietzsche), profetas de cátedra (Weber) iluminados, que ainda acreditam na formação humana enquanto construção de uma comunidade de amigos forjada na leitura dos grandes clássicos.
Por que não repensar a questão da formação humana em um contexto de crise dos humanismos (marxismos, cristianismo, existencialismo) no qual surge novos paradigmas nas ciências (não mais ordem a partir da ordem, mas ordem a partir do caos, do ruído) gerados por novos agenciamentos na própria estrutura dos saberes.
Parafraseando Marx (em sua 11ª tese sobre Feuerbach) e sem querer incentivar o ativismo estéril, eu repito: Os Pensadores, intelectuais se contentaram em interpretar o mundo de diferentes maneiras, cabe agora transformá-lo.
Primeiro se jogue no abismo, depois pense em inventar asas...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro". Entrevista com Giorgio Agamben




"O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro" -Giorgio Agamben,
Segundo ele, "a nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas". Assim, "a tarefa que nos espera consiste em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”, afima Agamben.
A tradução é de Selvino  J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Eis a entrevista.
O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe  financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itália. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?

“Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. ”Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.
Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a idéia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas - assumiu  o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.
A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?
A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado.  Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido,  ele, como hoje aparece  como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico,  mas talvez consista nisso, no fato de que  o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história  e o passado tem um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.
O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi.  Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar)  têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim,  da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com  as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.
Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado  ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.

A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?
Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua  (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo,  foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder.  Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política.  O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma  da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua.

O mal-estar, para usar um eufemismo, com que  o ser humano comum se põe frente  ao mundo da política tem a ver especificamente com a  condição italiana ou é de algum modo inevitável? 

Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais  econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras.
É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência.  As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.

O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?

Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia  em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos.  Poucos  sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

A  grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal,  o futuro será melhor do que o presente?

Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: ”a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.

Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a lectio que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação  de como sair do xequemate no qual a arte contemporânea está envolvida.

Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade  que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea,  as duas coisas coincidem.
Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made?  Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte.  Naturalmente - a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança  aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um  objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.
Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercadorização.  Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio,  infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com  não-obras e performances a museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.

SOBRE MINHA OPÇÃO POR FILOSOFIA

Pastores , professores,  políticos, patrões e empregados, pais e mães, todos são cúmplices dessa letargia e alienação que se abate sobre nosso povo que perdeu a capacidade de se indignar e dizer não. Um povo ao qual foi roubado não apenas o direito de falar e pensar, mas de sobreviver dignamente como pessoa humana.  Concordo com o saudoso Betinho quando disse: "Nós nos acostumamos de forma perigosa a conviver com a pobreza e a miséria. Para conviver com isso, ou cada um assume uma cota de cinismo ou cria um estado de consciência, um estado de mudança ou indignação".
Quando li Nietzsche pela primeira vez, disse a mim mesmo – eis um homem que definitivamente escreve com carne e sangue, enfim, que se consume em cada um de seus escritos. Sob os golpes de sua filosofia a marteladas, procurei o caminho tortuoso da filosofia onde muitos se perderam...O próprio Nietzsche reconhecia que seus escritos era uma escola de suspeita, mais também uma escola de coragem e até mesmo de temeridade - Nietzsche ensina-nos o amor fati - uma vontade que quer com alegria, uma vontade trágica que afirma a vida na pura pluralidade do devir. A Vida vale por si mesma. A decadência de nossa época estaria justamente ali, onde se afirma a virtude, a felicidade, o bem, o Belo, a verdade, a justiça, a igualdade, a caridade, a piedade, etc. Nietzsche demonstra que por trás dos valores superiores da humanidade impera uma vontade de fraqueza e forças reativas. E para além dos escombros da moral, da religião e da metafísica, o filósofo anuncia que vê a chegada de um novo tempo, de um novo homem, de uma nova maneira de sentir, pensar e querer... Da ansiedade da espera pelo além-homem, Nietzsche cria para si os Espíritos Livres . Falsidade, delírio de uma mente já doentia. Nietzsche responderia - "De quanta falsidade ainda preciso para me dar o luxo de minha veracidade..? Falando de si mesmo em Ecce Homo, obra em que, para muitos, os sinais da loucura já se manifestam, Nietzsche profetiza - Na antevisão de que dentro em breve  terei de me apresentar à humanidade  como a mais difícil exigência que jamais lhe foi feita, parece-me indispensável dizer quem sou. No fundo se poderia sabê-lo, pois não me deixei sem testemunho. A desproporção, porém, entre a grandeza de minha  tarefa e a pequenez de meus contemporâneos, alcançou sua expressão no fato de que nem ouviram, nem sequer me viram... Ouçam, pois, eu sou tal e tal. Não me confundam, sobretudo....
A última coisa que me proporia seria melhorar a humanidade. Por mim, não são erigidos novos  ídolos; Derrubar  ídolos, isto sim, já faz parte de meu ofício. Privou-se a realidade de seu valor, de seu sentido, de sua veracidade, no mesmo grau em que se mentiu um mundo ideal... o mundo-verdade que se opõe ao mundo aparente... A Mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, com ela a humanidade  mesma se tornou, até  em seus  mais profundos  instintos, mentirosa e falsa... Quem sabe respirar o ar de meus escritos sabe  que é um ar de altitude, um ar forte. É preciso ser feito para ele... O gelo está perto,  a solidão  é descomunal - mas com que traquilidade estão postas  todas as coisas à luz! Com que liberdade se respira! quando se sente  abaixo de si!.. Filosofia, tal como até agora a entendi e vivi, é  a vida voluntária em gelo e altas montanhas - a procura por tudo que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral... Aqui não fala nenhum profeta, nenhum daqueles arrepiantes híbridos de doença e vontade de potência que são chamados fundadores de religiões. É preciso mais que tudo saber ouvir corretamente o tom que vem dessa boca... As palavras mais quietas são as que trazem  a tempestade, Aqui não fala nenhum fanático, aqui não se prega, aqui não se exige crença: de uma infinita  plenitude de luz e profundeza de felicidade cai  gota por gota, palavra por palavra - uma delicada lentidão é a cadência desse falar. Algo assim só chega  aos mais seletos...Nietzsche, o grande sedutor? O Sábio? o Mestre? o Guru? o Santo? o Louco? Ouçamos o nos aconselha Zaratrustra:
"Sozinho vou agora,  meus discípulos! Também vós ide embora, e sozinhos! Assim quero eu... Afastai-vos de mim, defendei-vos de mim!  E, melhor ainda, envergonhai-vos de mim ! Talvez vos tenha enganado.Paga-se se mal a um mestre, quando se continua  sempre a ser apenas o aluno. Vois me venerais, mas,  e se um dia sua veneração desmoronar? Guardai-vos para que não vos esmague uma estátua...Sois meus crentes, mas que importa  toda crença.!
Ainda não vos havíeis procurado, então me encontrastes.Assim fazem todos os crentes. Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes, e somente quando me tiverdes todos renegado, eu retornarei a vós...Com outros olhos eu procurarei os meus perdidos....
Com um outro amor, eu vos amarei então...Quem tem ouvidos, que ouça... [Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.]