QUEM SOU?

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Goiania, Brazil
Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Ate quando suportaremos isso?

Bom dia colegas, que dia lindo...apesar da secura.

Uma pergunta que não quer calar - até quando suportaremos isso? Até quando vamos continuar nosso trabalho nessa universidade fingindo que nada acontece? Sinto um mal estar terrível em ficar dando aula e fazendo palestras sobre pensadores  como Nietzsche e Heidegger que nos conclamavam para ter a coragem de viver abrindo novas possibilidades de ser e estar no mundo. É preciso ter a coragem de levantar a cabeça, como o homem revoltado de Camus, e perguntar: que sentido tem tudo isso?
Deixemos de ser Sísifo e passemos a ser Prometeu.
Nada mais atual que a pergunta de Lenin - Que fazer?
Deixemos a palavra com Nietzsche...

"Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu. Certamente, existem as veredas e as pontes e os semideuses inumeráveis que se oferecerão para te levar para outro lado do rio, mas somente na medida em que te vendesses inteiramente: tu te colocarias como penhor e te perderias. Há no mundo um único caminho sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho. Quem foi então que anunciou este principio: „Um homem nunca se eleva mais alto senão quando desconhece para onde seu caminho poderia levá-lo‟? (NIETZSCHE).
Aproveito para convidá-los para uma aula que darei hoje 14hs - Sala 109 - abrindo a EXTENSÃO NEPEFE - 2017/2
Nietzsche: como tornar-se o que se é.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

QUE FAZER?



Por Selvino Heck)

Publicado em agosto 26, 2017 por Luiz Müller 

A pergunta de Lenin em 1902, que serviu como título de seu livro mais famoso e importante, pode ser feita de novo hoje, 2017. Com este desafio, Frei Betto abriu o Retiro do Movimento Nacional Fé e Política, realizado de 18 a 20 de agosto no Seminário da Floresta, MG, com 50 lideranças de movimentos sociais, pastorais e CEBs, parlamentares e ex-parlamentares, detentores de mandatos públicos, com o tema geral ‘Espiritualidade Política’.
O clima geral dos participantes era de dúvidas, interrogações, alguma perplexidade, inquietações, sentido de esperança ante o momento que o Brasil, a América Latina e o mundo atravessam, uns mais em crise, outros menos, seja no campo pessoal, seja no campo político-econômico-social, no cotidiano da vida e da sociedade, preocupação com o futuro, com as saídas e alternativas. Um novo mundo ainda é possível? Onde acertamos, o que deu errado ou o que fizemos de errado, onde pendurar a nossa esperança, foram perguntas do primeiro trabalho de grupo.
Pedro Ribeiro de Oliveira, da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política, situou a conjuntura em três níveis.
Primeiro nível:  Desde o início do capitalismo, há pouco mais de 200 anos, quando o capital não está dando lucro e há uma crise, acontece a destruição criativa e/ou uma guerra. Estamos em tempos de financeirização do capital– os bancos mandam no mundo –  e advento rápido de novas tecnologias. Hoje, há uma passagem do Pólo Nova Iorque, EUA, para Pequim, China, e pode estar-se aproximando uma terceira guerra mundial, em capítulos.
Segundo nível: Há um golpe em andamento. O Brasil vinha olhando os pobres e tendo políticas sociais. O Brasil vinha tentando certa autonomia frente às grandes potências, e o conseguiu. “Sofremos uma guerra e perdemos, com todas as suas consequências. As grandes corporações dos EUA, que mandam no mundo, ganharam a guerra.”
Terceiro nível: É o mais profundo e amplo. O capitalismo só existe crescendo e consumindo. O planeta não cresce. Estamos devastando a vida do planeta. Sintomas disso: a extinção progressiva e cada vez mais rápida da espécie; o aquecimento global: 1 grau em 2014, completando 3 anos de aquecimento global. “É preciso tomar consciência e falar da catástrofe que não se sabe quando vai chegar. Há um cheiro de véspera de primeira guerra mundial. Quando isso acontece, a saída é voltar-se para a aldeia, a comunidade local, para enfrentar os resultados e consequências da guerra e sobreviver.”
Jesus começa sua oração com Pai nosso, não Pai meu, e depois pede o pão nosso, não o  pão meu, diz Frei Betto. Jesus, na sua vida e pregação, teve duas atitudes. Na relação pessoal, amor e compaixão, com todas e todos: Jesus falou com a samaritana, que era proibida de falar com os judeus, ainda mais sendo mulher. Amor até pelos inimigos, para que mudem de ideias e práticas. Compaixão sempre com os mais pobres, os oprimidos, os desprezados. Na relação social: a partilha de bens, repartir os bens. Assim como aconteceu na multiplicação de pães e peixes: nada de comprar alimentos; repartir, partilhar o que cada um da multidão tinha.
Com esta mensagem e prática, Jesus só podia tornar-se alguém perigoso para o poder estabelecido, político e religioso. Assim como o Papa Francisco – o maior líder da atualidade em plano mundial, segundo Frei Betto -, do qual foram lidas, refletidas e debatidas as falas aos participantes do segundo e terceiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares chamados pelo Papa. E a pergunta para os grupos de trabalho:  Quais são os desafios para a ação?
Disse o Papa Francisco em novembro de 2016 aos participantes do terceiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares: “No nosso último encontro, na Bolívia, com a maioria de latino-americanos, pudemos falar da necessidade de uma mudança para que a vida seja digna, uma transformação de estruturas: além disso, do modo como vós, movimentos populares, sois semeadores de mudança, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo, como numa poesia; foi por isso que vos quis chamar ‘poetas sociais’; e também pudemos enumerar algumas tarefas imprescindíveis para caminhar rumo a uma alternativa humana diante da globalização da indiferença: 1. Pôr a economia a serviço dos povos; 2. Construir a paz e a justiça; 3. Defender a Mãe Terra.”
Disse mais o Papa Francisco aos movimentos populares: “Então quem governa? O dinheiro. Como governa? Com o chicote do medo, da desigualdade, da violência financeira, social, cultural e militar que gera cada vez mais violência. Quanta dor e quanto medo! Os 3 ‘t’- teto, trabalho e terra -, o vosso grito que faço meu, têm algo daquela inteligência humilde, mas ao mesmo tempo vigorosa e purificadora. Um projeto-ponte dos povos diante do projeto-muro do dinheiro. Um programa que visa ao desenvolvimento humano integral. Este é o desenvolvimento do qual nós temos necessidade: humano, integral, respeitador da Criação, desta Casa Comum.”
Que fazer, perguntou Lenin em 1902. Que fazer, perguntou Frei Betto em 2017. Que fazer, perguntaram-se todas e todos os participantes do Retiro.
Há muito o que fazer. Por exemplo: em primeiro lugar, manter a esperança; acender e reacender a utopia; revalorizar as relações; voltar a ‘costurar’ as organizações e práticas de base, fazendo as coisas com eles, e não por eles ou em nome deles; ser menos instituição e mais movimento; passar pela revolução democrática, como diziam Florestan Fernandes e Antônio Cândido; retornar às bases; trabalhar com a juventude, cultivando a esperança;  articular o muito que acontece na base popular, à luz de uma política com novos instrumentos políticos: ou os que estão aí, revigorados, ou construir novos, e uma nova utopia, que levem a uma nova síntese.
Frei Betto ainda apontou outros caminhos e urgências: voltar a discutir método, objetivos, prioridade e estratégia; formar cidadãos, porque o capitalismo só quer contribuintes; enfrentar o mercantilismo presente em todos os aspectos da vida humana, alimentando a espiritualidade; organizar a esperança:  a ecologia é um dos caminhos, porque sensibiliza todas as camadas sociais.
Não se resolveram todos os problemas do Brasil e do mundo no Retiro. Mas certamente acenderam-se muitas luzes e alimentou-se a esperança. Como diz Frei Betto: “Quanto mais fé você tem, mais coragem”.
Selvino Heck
Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A FLOR E A NÁUSEA,

A FLOR E A NÁUSEA, ROSA DO POVO, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?



Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.



Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.



Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.



Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erra, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.



Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de l9l8 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.



Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.



Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.



Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

sábado, 29 de abril de 2017

GREVE GERAL - FOTOS E FALAS

Wanderley J. Ferreira Jr
Reconheço que é problemático reconhecer que em qualquer país com um povo menos tutelado e alienado que o nosso, multidões estariam nas ruas nesse momento fazendo vigília cívica até o governo cair.
Apesar de reconhecer causas históricas, sociais, políticas e econômicas para a pasmaceira e alienação que se abate sobre a maioria silenciosa, estou perdendo a paciência com nós mesmos.
Doeu profundamente ver gente pobre, explorada, que anda como gado em ônibus e trens lotados,  reclamar da greve com medo de perder um dia de trabalho. Lamentável ver esse bando de zumbis, sonâmbulos, querendo  trabalhar  e reclamando daqueles que lutam pelos seus direitos.
Os ratos em Brasília agradecem.
Isso mostra a eficiência da ideologia, no caso burguesa – a empregada quer ser a patroa de amanhã, o peão quer ser o fazendeiro. Acreditam que com  trabalho e algum mérito acabarão chegando lá...
Pode ser doloroso e até injusto com o povo admitir, mas na maioria dos processos de transformação social há sempre a turba, a massa ignara que vem a reboque. Há sempre uma vanguarda, uma minoria qualificada que luta na linha de frente – isso acontece em movimentos da esquerda e direita. Que me desculpe o velho Marx e companheiros anarquistas...
Mas o fato é que o rebanho acordou para ir trabalhar. Alheio à greve geral e às reformas que afetarão a vida de todos. Reformas que só interessam aos patrões, às corporações, aos bancos, enfim, à banca do sistema financeiro. Além de estigmatizar o  funcionalismo como sendo um bando de privilegiados sustentados pelos mais pobres.
Entretanto, a greve teve, acima de tudo, um caráter pedagógico. Serviu de alerta aos ratos em Brasília.
Serve de alento pensar que muitos que não foram às ruas e  também não apoiam esse governo ilegítimo e suas reformas. Espero.
Houve momentos históricos e imagens lindas e inesquecíveis que gostaria de compartilhar aqui – SP, Rio e Fortaleza.


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Parabéns meus guerreiros...isso renova minhas esperanças.
Só acho que termos que  acampar nas ruas. Vigília cívica até governo cair.
É preciso descer a toca dos ratos em Brasília.
Ontem fui ao centro de Goiânia, quando cheguei a polícia já tinha dispersado multidão e mandado um de nossos alunos (UFG) para o hospital. Diagnóstico: UTI - Estado grave com traumatismo craniano e múltiplas fraturas no rosto.
Fiz algumas imagens – Testemunhas afirmaram que quem bateu no estudante e estava comandando a tropa era um policial acusado na Op. Sacramento de liderar grupo de extermínio.
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Enquanto isso em Brasília...

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A questão que coloco aos colegas é: até quando vamos fingir que nada acontece? Tem sentido continuar nosso trabalho, dar aulas, escrever, pesquisar, organizar eventos, etc nesse contexto sem sentir um certo mal estar diante de nossos alunos e de nós mesmos?
Mas ainda resta uma esperança...essa rapaziada que não foge da raia...

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A ânsia de destruir é também uma ânsia de criar. Bakunin.
Vive l’anarchie

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Um abraço a todxs e bom feriado.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

FILOSOFIA, EDUCAÇÃO E RESISTENCIA: NIETZSCHE


Wanderley José Ferreira Jr


O próprio Nietzsche reconhecia que seus escritos eram uma escola de suspeita contra tudo que até então se venerou e idolatrou. Nosso filósofo gostava de comparar seus escritos com o ar rarefeito das grandes altitudes, um ar fatal para os pulmões frágeis do homem de natureza bovina  acostumado a viver na planície. Sempre nos tornamos mais fortes quando afirmamos a vida diante do tirano que é a dor, ensina-nos Nietzsche (Cf. HH. Prefácio). A dor para muitos espíritos débeis é um testemunho contra a vida, contra as paixões e os sentidos. Contudo, a vida deve ser afirmada mesmo nos momentos de maior dor e sofrimento - Amor fati..  A existência  não é algo culpado e responsável, e que, como tal, deveria ser justificada, redimida e condenada em favor de um outro mundo. O homem não é um ser culpado e decaído que deve ser  redimido pela ascese, pelo sacrifício e pela mortificação das paixões e dos desejos. A existência é inocente no jogo alegre do devir que tudo destrói e tudo cria.
Em textos como Schopenhauer como educador e as Conferências sobre os estabelecimentos de ensino na Alemanha Nietzsche expõe sua crítica aos estabelecimentos de ensino de seu tempo. Para o filósofo, a educação não passaria de um sistema que insiste em banir as exceções a favor do medíocre mediante uma crescente cientificização e historização do ensino. As críticas de Nietzsche permanecem bastante atuais ao abordarem questões como: a massificação do ensino, sua excessiva profissionalização e a superficialidade dos currículos, que tratariam da cultura na aparência, pois a preocupação  principal era  apenas a formação técnico-científica. 
Definitivamente Nietzsche não é um democrata ou defensor da universalização do ensino superior. Para ele   somente a classe eleita pela natureza teria o privilégio de freqüentar os poucos estabelecimentos de ensino cujos docentes, encarados como mestres e guias espirituais, se voltariam para a formação desses eleitos pela sorte. Mas até que ponto seria legitimo defender, com Nietzsche, que a universidade deveria ser o lugar para que uma casta de privilegiados tivesse condições de acesso ao ensino não utilitário,  mas voltado para o ócio e para  questões filosóficas e estéticas perenes? E como já vimos, a tese nietzschiana do ser humano como criador, domesticador de seres humanos faz explodir o horizonte humanista e a maioria das teorias pedagógicas em vigor. O filósofo observa que todo processo civilizatório guiado por ideais humanistas lutou e luta contra os  impulsos, as forças desinibidoras que, segundo ele, traduzem o que o sujeito é de fato e que corroem  o polimento civilizatório promovido pela filosofia humanista nas almas educadas.
Entretanto, até que ponto seria pertinente a percepção de Nietzsche de que por trás da domesticação escolar dos homens, descortina-se um horizonte de lutas intermináveis sobre o direcionamento da criação de seres humanos? Seria esse o conflito do futuro para Nietzsche: a luta entre os que criam o ser humano para ser pequeno e os criam para ser grande, pensando e sentindo além de bem e mal e inocentando a vida mesmo na dor e no sofrimento. Mas seria de fato, como  denuncia de Nietzsche, a domesticação do ser humano o ideal inconfessado de toda espécie de humanismo que acredita que pode melhorar o homem via educação?
Nietzsche: a necessidade de uma nova educação para um novo tipo de homem
De 16 de janeiro a 23 de março de 1872, o  jovem Nietzsche proferiu cinco  conferências sobre educação na Sociedade Acadêmica da Basiléia, Suíça.  O título das conferências era:  "Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino". O tom geral das conferências expressa um profundo desencanto com o estado dos estabelecimentos alemães de ensino, seja a escola técnica, o ginásio ou a universidade. A razão principal  para decadência seria a crescente cientificização do ensino, sua massificação e a superficialidade e limitação dos currículos voltados para formação de servidores do mercado ou do Estado. As conferências narram um dialogo fictício entre um filósofo e seu discípulo acerca da situação dos estabelecimentos de ensino. O diagnóstico básico de Nietzsche:  os estabelecimentos de ensino  tratam de cultura na aparência, sua  preocupação principal é com a ciência. Isto se deve a uma interferência do Estado e da própria ciência.  A meta é qualificar mão de obra para ocupar os novos postos da sociedade industrial, daí a necessidade de ampliar o número dos estabelecimentos de ensino e reduzir o tempo de estudo.
Nessa concepção científico-burocrática do ensino, nem a educação básica e as universidades tem como alvo a formação cultural do aluno, seu refinamento estético-sensitivo, o objetivo é a profissionalização. O indivíduo para se tornar útil não precisa de uma longa formação; quanto mais rápido ingressasse no mercado de trabalho, melhor. Esta concepção científico-burocrática da educação limita cada vez mais o espaço da filosofia, da  literatura e da arte. Em  tal  contexto, a Cultura estaria a cargo, não dos mestres-professores, mas do jornalismo,  dos filisteus da cultura e eruditos, esses homens de segunda mão. O Jornalismo influencia tanto o professor quanto o aluno, fazendo com que ambos se atenham aos temas do momento.
O estudante deve buscar nas universidades sua especialização em determinada área do saber e não uma formação global, humanística, com aprofundamento de questões de cunho filosófico. A intromissão das ciências na educação tem como consequência o afunilamento do saber e a alienação do estudante para questões filosóficas ou estéticas. Um dos grandes perigos da crescente especialização é  a perda da compreensão acerca da comunidade de todos os conhecimentos, sua raiz comum.
Para Nietzsche a educação deve deixar de ser um adestramento para besta humana, e talhar um novo tipo de homem, aceitando um  princípio básico da natureza: apenas alguns seres nascem com o espírito aberto para a cultura e para a filosofia (os eleitos), enquanto a grande maioria nasce sem este dom. E se a universidade, a educação superior, não é para todos, Nietzsche critica o Estado industrial burguês pela disseminação de estabelecimentos de ensino. Entretanto, os  intelectuais 'eleitos' surgem no seio do povo, não precisam pertencer a alguma classe 'superior'. A Universidade deveria dar a essa casta de privilegiados  condições de acesso ao ensino não utilitário, mais voltado para o ócio, e à formulação das questões filosóficas e estéticas perenes. Aos  que frequentam a universidade deve ser dado a chance de se dedicarem à aprendizagem da cultura sem jamais terem que se preocupar em como podem ser úteis à produção.
A  filosofia deve contribuir para essa formação humana baseada na criação e cultivo do raro, do além-homem, indivíduo exemplar. Nietzsche exigia que até mesmo seus leitores fossem tipos, indivíduos exemplares, singulares. 
“ Quem sabe respirar o ar forte de meus escritos sabe que é um ar da altitude, um ar forte. É preciso ser feito para ele, senão o perigo de se resfriar não é pequeno. O gelo está perto, a solidão é descomunal – mas com que tranqüilidade está todas as coisas à luz! Com que liberdade se respira! Quanto se sente abaixo de si! – filosofia, tal como até agora entendi e vivi, é a vida voluntária em gelo e altas montanhas – a procura por tudo o que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral. De uma longa experiência que me foi dada por andanças pelo proibido, aprendi a considerar as causas pelas quais até agora se moralizou e idealizou, de modo muito diferente do que seria desejável: a história escondida dos filósofos, a psicologia de seus grandes nomes, veio à luz para mim”. (Nietzsche, Ecce. p. 366).

Formar que tipo de homem? pergunta Nietzsche. Formar como se esculpe uma obra de arte o  homem saudável em sua constituição física e espiritual,capaz de fazer do combate, do desafio, da dificuldade, a expressão de sua potencialidade e a realização de sua existência. A filosofia, como resistencia, é a expressão de um tipo de homem que tem em sua própria força, em sua coragem e em seu enfrentamento do medo, a causa motora. Entretanto, o filósofo não fala para o aviltante animal de rebanho que nos tornamos.
“... o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir. Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam. Amo os do grande desprezo, porque são os do grande respeito, e dardos da aspiração pela outra margem. Amo Aqueles que não procuram atrás das estrelas uma razão para sucumbir e serem sacrificados: mas que se sacrificam à terra, para que a terra um dia se torne do além-do-homem [...] Amo Aquele cuja alma é profunda também no ferimento, e que por um pequeno incidente pode ir ao fundo [...] Amo todos Aqueles que são como gotas pesadas caindo uma a uma da nuvem escura que pende sobre os homens: eles anunciam que os relâmpagos vêm, e vão ao fundo como anunciadores. (NIETZSCHE, Assim falou Zaratustra.).
A Filosofia se quiser contribuir para formar um individuo resistente a tudo que avilta, amesquinha e destrói o ser humano, não pode se contentar em ser um bálsamo para nossa dor ou sofrimento. Ao contrário, ela deve nos ensinar a visão trágico-dionisíaca da existência – o terrível, a dor, o sofrimento, assim como a alegria, fazem parte da vida que deve ser afirmada incondicionalmente. E em vez de buscar um sentido para vida, a  filosofia deverá reconhecer que não há unidade na mutiplicidade e com o  devir é sem finalidade. E pior, também não há outro mundo.
Essa concepção trágica da vida deve ser acompanhada da consciência de que a  cultura é o elemento central da vida humana. Nietzsche diferencia culturas mais sadias e fortes criadoras de indivíduos distintos, criativos e mais poderosos, e  culturas fracas e fragmentadas que geram seres medíocres e inferiores – reféns do próprio medo. E a filosofia e arte seriam as guias e redentoras da humanidade, os instrumentos de culturas fortes e sadias. Infelizmente, em nossa sociedade, escolas e universidades vigora uma cultura de massas e superficial alimentada  pelos jornais (Midias) e uma massificação do ensino restrito a profissionalização  técnico-científia. Dai, a barbárie da  cultura moderna uma mistura eclética de estilos,  idéias e obras que padece de um racionalismo excessivo e individualismo egoísta que alimenta sua fragmentação em especialidades.
Outro  inconveniente que dificulta fazer da filosofia e da própria educação espaços de resistência à bestialização e apequenamento  do homem é o excesso de conhecimento histórico, que acaba tirando a efetividade do presente e a criatividade. Com a proliferação dos estudos históricos, o homem moderno estava sendo paralisado e esmagado pelo conhecimento histórico. Parece até que o homem moderno não possui nada de próprio”. Acumulou uma enorme quantidade de conhecimento,mas que não tem nenhum papel transformador de si mesmo e da vida social. O estudo da história deveria ser posto a serviço da criação de grandes personalidades  e contribuir para o renascimento de uma cultura afirmadora da vida.
O contraste, então, é entre as “pessoas”, com suas tradições, “costumes e direitos”, e o Estado moderno, com suas mentiras e pretensões, que se difundem através da imprensa e da cultura de massa. Os movimentos democráticos, liberal, feminista, anarquista e socialista , para Nietzsche, são expressões do declínio da vida, da doença e do ressentimento. Sintomas de cultura decadente, socrática, que valoriza a razão em detrimento da paixão. Suspendem sobre a vida valores transcendentes.
O erudito microscópico é o objetivo de praticamente todas as instituições de educação e formação, do fundamental ao ensino superior. O meio é a pedagogia moderna - misto de erudição e futilidade, de cientificismo e jornalismo; que ajuda a formar os servidores do momento – homens de natureza bovina. O que vemos então é a distribuição das disciplinas acadêmicas nos estabelecimentos educacionais em grades de matérias muito rígidas, sem diálogo umas com as outras, e cada vez mais atomizadas. Como  resultado desse processo  temos o erudito especialista.
Como resistência a essa crescente especialização, instrumentalização da cultura e hegemonia do discurso competente, temos que pelo menos tentar levar nossos alunos a uma visão de conjunto (Theorein)  e a uma compreensão das dinâmicas e mecanismos fundamentais da sociedade em que estão inseridos, oferecendo-lhes elementos culturais, técnico-científicos, filosóficos, ético-politicos para que  possam vislumbrar vetores de  mudanças, possibilidades inscritas  na aparente fatalidade com os fatos se impõem. 
Nietzsche sempre condenou  qualquer espécie de metafisica, filosofia, religião ou moral que tenta separar o homem da natureza, do momento presente, desta vida e deste mundo que ele vive aqui e agora. Como c consequência a educação deve proporcionar condições para que mestres e alunos afirmem a vida com novas aspirações, possibilidades e anseios, abrindo novos caminhos.
Ninguém pode construir no teu lugar a ponte que te seria preciso tu mesmo transpor no fluxo da vida – ninguém, exceto tu. Certamente, existem as veredas e as pontes e os semideuses inumeráveis que se oferecerão para te levar para outro lado do rio, mas somente na medida em que te vendesses inteiramente: tu te colocarias como penhor e te perderias. Há no mundo um único caminho sobre o qual ninguém, exceto tu, poderia trilhar. Para onde leva ele? Não perguntes nada, deves seguir este caminho. ...um homem nunca se eleva mais alto senão quando desconhece para onde seu caminho poderia levá-lo‟? (NIETZSCHE, 2003, p. 141).
O que importa é o  estar a caminho em direção a uma outra forma de educar alicerçada em fundamentos filosóficos que proporcionem uma visão de conjunto da realidade, uma cosmovisão crítica que ajude a desvelar os mecanismos que nos fazem  tomar o aparente  pelo real. Enquanto espaço de resistência à cultura de massa reduzida a entretenimentos, ao conhecimento  jornalístico e superficial que impede o pensar, a Escola não pode se contentar em fornecer mais “recursos humanos”  para o mercado e o Estado.
O resultado de nossa educação dita humanista é esse aviltante animal de rebanho, que se curva sob o peso de suas degradantes virtudes e que sempre dá a outra face em nome da paz dos covardes. Nietzsche parece querer que nossos sistemas de ensino ajudem a encontrar  e formar indivíduos exemplares como aquele pensador que era uma luz solitária  no cenário cinzento da modernidade: Arthur Shopenhauer, um pensador errante, que nunca se conformou ou fez concessões, e que estimulou milhões de jovens como Nietzsche a busca meios, ferramentas, experimentos que nos permitam ver alternativas à barbárie instalada nesses tempos de indigência.
Assim como na paidéia grega, o exemplo incentivava os jovens a alcançarem  excelência,  também em Nietzsche ele se torna um principio  fundamental de sua proposta pedagógica. Educadores que dão testemunho de vida e encarnam em suas existências o que ensinam podem forjar as condições de possibilidade  de uma educação para a resistência ao estabelecido. “Teus educadores não podem ser outra coisa senão teus libertadores. Eis aí o segredo de toda formação” (NIETZSCHE, 2003, p. 142). O fato é que para Nietzsche não é possível superar a ordem do discurso vigente sem uma boa educação que não pretende adaptar, conferir habilidades, mas despertar potências, forjar espíritos livres. O que só seria  possível com professores exemplares, algo raro em uma cultura de erudição microscópica e jornalista como é a nossa. Esse professor, cada vez mais raro, caminha junto, ele é um exemplo. Ele: “reconhece o ponto forte dos seus alunos e dirige então todas as energias, todas as forças a fim de levar à maturidade e à fecundidade esta única virtude.” (NIETZSCHE, 2003, p. 143).