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Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Heidegger e o Oriente - Professor Marco Aurélio Werle e Monja Coen

A morte do desejo de filosofar


Por Wanderley J. Ferreira Jr
Qual seria o caráter e os elementos constitutivos do desejo de filosofar? E em que medida esse desejo de filosofar encontra-se em perigo em nossa época?. Uma época indigente, que não pensa, mas apenas planifica e calcula. Vivenciamos, assim, o mal-estar de uma época que dificulta uma relação mais essencial, originária e interativa com as coisas, o mundo e os outros, uma vez que tudo se mostra em sua mera disponibilidade ao cálculo ou é reduzido à condição de imagens que hiper-realizam o real. Em tal contexto como recuperar ou salvar o desejo de filosofar?
Na tentativa de caracterizar o desejo de filosofar, Alain Badiou (1994, p. 35) aponta quatro condições constitutivas do mesmo: a revolta, a lógica, a universalidade e a aposta/o risco. Como fazer nossos alunos entender que o desejo de filosofar comporta e exige algo aparentemente paradoxal- uma certa “revolta lógica”? Revolta sim, porque a  Filosofia enquanto discurso radical e  crítico sempre coloca em questão o conhecimento, os valores e ideais instituídos. Essa rebeldia da Filosofia, não é uma rebeldia sem causa, uma revolta que apenas desconstrói e nega o instituído. A revolta constitutiva do desejo de filosofar exige  uma lógica. É uma revolta fundada na discussão normatizada pela razão.
Nosso mundo não gosta da revolta nem da crítica. “É um mundo que crê na gestão e na ordem natural das coisas [...] Ele pede a cada um para adaptar-se. É um mundo do simples cálculo individual” (BADIOU, 1994, p. 48). Entretanto, nosso mundo é avesso à coerência racional, está submetido à lógica de imagens e signos que simulam o real. Esse mundo das imagens, mundo da mídia, é instantâneo e incoerente. É um mundo muito rápido e sem memória, efêmero e fugaz. Onde a única permanência é a impermanência. Em tal mundo das imagens, em que a forma sobrepõe ao conteúdo, é muito difícil sustentar uma lógica do pensamento.
Mas o desejo de filosofar também se alimenta de uma certa tensão entre a universalidade/necessidade pretendida pelo discurso filosófico e a idéia de acaso, de aposta, de imponderável. Há na Filosofia um grande desejo de universalidade, na medida em que ela se dirige a todo pensamento e a todo homem, sem exceção. Contudo, a única universalidade que nosso mundo conhece é a do dinheiro,  a universalidade daquilo que Marx chamava de equivalente geral. Fora da universalidade do mercado e da moeda, cada um está encerrado em sua tribo. Cada um defende sua particularidade. Em nosso mundo a falsa universalidade do capital é contraposta ao gueto das culturas, etnias, classes, religiões.  (Cf. BADIOU, 1994). 
A aposta, o acaso, o risco, o engajamento, também são negados e dissimulados pelo mundo do cálculo, da previsão, da segurança e no qual vence o mais adaptado. Vivemos em um mundo obcecado pela segurança, “um mundo onde cada um deve, o mais cedo possível, calcular e proteger o seu futuro. É um mundo da carreira e da repetição. (BADIOU, 1994, p. 39).
Podemos então considerar que nosso mundo contemporâneo é oposto ao desejo de  filosofia. Nele a  Filosofia está ameaçada, não encontra direito de cidadania.