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Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT - Leonardo Boff

Leonardo Boff
Teólogo
Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT

Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu,”capado e recapado, sangrado e ressangrado”. Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguradados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os paises mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fôra construida com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam:”façamos nós a revolução antes que o povo a faça”. E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de um outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde “a coisa pública”, o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: “não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido”. Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. A “Fome Zero”, depois a “Bolsa Família”, o “Crédito consignado”, o “Luz para todos”, a “Minha Casa, minha Vida, a “Agricultura familiar, o “Prouni”, as “Escolas profissionais”, entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota inflingida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um “não retorno definitivo” e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses “descobrindo/encobrindo” o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituirem índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Ceslo Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida(1993):”Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromer o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação”(p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

Leonardo Boff autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000).

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DISCURSO HISTÓRICO DE LULA EM MATO GROSSO DO SUL - 26-08-10

[Insira o Título da Postagem Aqui]


DISCURSO HISTÓRICO DE LULA EM MATO GROSSO DO SUL [Fragmentos]
26-08-10

"A doença pior que existe na humanidade é o preconceito. E eu sei quanto preconceito eu fui vítima nesse país.Hoje eu brinco com o preconceito. Hoje eu falo “menas laranja” as pessoas acham engraçado, mas quando eu falava em 89 (1989), eu era um “analfa” (analfabeto). Pois a ignorância dos que me achava analfa era o de confundir a inteligência com o conhecimento e o aprendizado no banco da escolaridade.

A ignorância, a ignorância de algumas pessoas que achavam que só tinha valor aquilo que vinha de fora. É americano? É maravilhoso! É europeu? É extraordinário! É chinês? É fantástico! É japonês? É nun sei o quê lá!… E se comportavam como se fossem cidadãos de segunda classe ou verdadeiros vira-latas que não se respeitavam porque não tinha auto-estima por si mesmo.

Aah!… Quantas vezes me fizeram… Eu lembro Zeca (do PT), como se fosse hoje; uma vez eu estava almoçando na Folha de São Paulo; um diretor da Folha de São Paulo perguntou pra mim: “escuta aqui, ô candidato: o senhor fala inglês?” Eu falei: Não. “Como é que o senhor quer governar o Brasil se o senhor não fala inglês?” Eu falei: mas eu vou arrumar um tradutor. “Mas assim não é possível. Não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês.” E eu perguntei pra ele: Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?

Não. Mas eles achavam, eles achavam que o Bill Clinton não tinha a obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado que tinha que falar inglês e não eles falar português.
Teve uma hora Zeca, que eu me senti chateado e me levantei da mesa e falei: eu não vim aqui pra dar entrevista. Eu vim pra almoçar. Se isto é uma entrevista eu vou embora. Eu levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora. Vou terminar o meu mandato Zeca, sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão pra terminar o meu mandato. Também nunca faltei com o respeito com nenhum deles. Já faltaram com o respeito comigo. E vocês sabem o que fizeram comigo. Se dependesse de determinados meios de comunicação eu teria zero nas pesquisas e não 80% de bom e ótimo que nós temos nesse país.

Eu companheiros e companheiras, sou um homem que agradeço a Deus pela generosidade que Ele teve comigo. E agradeço a vocês porque um dia, vocês tiveram a mesma consciência que a maioria negra da África do Sul teve ao eleger um negro que representava 26 milhões de pessoas, sendo dominados por 6 milhões de brancos, vocês um dia tiveram a mesma consciência que os negros da África do Sul que elegeram Nelson Mandela para presidente da República daquele país depois de 27 anos de cadeia. Vocês tiveram consciência de eleger um metalúrgico, que tinha perdido muitas eleições por ser igual a maioria do povo, e o povo não acredita que seria capaz de dar a volta por cima, o povo não acreditava porque nós aprendemos a vida inteira que nós éramos seres inferiores, e pra governar esse país tinha que ser usineiro; tinha que ser fazendeiro; tinha que ser advogado; tinha que ser empresário; tinha que ser doutor e mais doutor. Um igual a gente não poderia governar o país. Nós não sabemos governar. Muito menos um coitado de um bancário (referindo-se a Zeca do PT). Se coloca no seu lugar bancário, porque este país é pra ser governado por banqueiro e não por bancário. Se coloca no seu lugar mulher, porque este país é pra ser governado por homem e não por mulher. Se coloca no seu lugar metalúrgico, porque este mundo não é pra ser governado por aqueles que moram no andar de baixo, mas por aqueles que moram no andar de cima. É assim que a escola ensinou. É assim que a sociologia ensinou.

É assim que nos ensinaram a vida inteira até que um dia, eu lendo um poema de Vinícius de Morais: “um operário em construção”, eu aprendi que um operário poderia dizer não. E quando ele disse não!, a lógica perversa que estava montada nesse país, é verdade que eu perdi três eleições, mas é verdade que eu já ganhei duas eleições seguidas e vamos ganhar a terceira eleição com essa companheira mulher (Dilma) presidente da República".
Luiz Inácio Lula da Silva - Presidente do Brasil.