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Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

quinta-feira, 15 de abril de 2010

SOBRE A MORTE DO FILOSOFAR


 

A Filosofia se nutre do espanto, da experiência do estranhamento, dos problemas e questões considerados, em cada época, relevantes para o processo de hominização e re-signficação da existência humana. Quando caí na tentação de estabelecer seus fins, suas finalidades[como formar para a cidadania] ela corre o risco de tornar-se uma justificação ideológica de determinados interesses, forças, grupos, etc.

A filosofia deveria, antes de tudo, ensinar a suspeita, até mesmo contra si, numa sociedade que cada vez mais parece fazer um pacto de cegueira, fingindo não ver que o "rei está nu", na escola, na Universidade, no Estado, na família, na religião, na moral e na tão decantada ciência. Infelizmente, muitos de nós professores de filosofia transformamos a filosofia, seu ensino, numa justificação dessa cegueira social, que aliena, emburrece, bestializa, que até instrui, mas não educa.

O fato é que entre ser sacerdote ou bufão, muitos preferem ser sacerdotes e colocam o selo de verdade absoluta no conhecimento que circula como moeda corrente. Mas, as vezes, a filosofia exige que sejamos bufões da sociedade: rindo daquilo que comumente se considera sagrado. É muito comum no campo do ensino e da reflexão filosófica alguns professores deixarem de ser filósofos e transformarem-se em sacerdotes, absolutizando seus pontos de vista ou determinado pensamento. A filosofia, ao contrário, propõe o debate, a disputa, o diálogo, a crítica ao estabelecido e instituído, enfim, o perspectivismo e o experimentalismo, que nos deixam imunes contra adesões dogmáticas a autores, idéias, valores, regimes políticos, crenças religiosas, etc.

A baixa demanda nos cursos de filosofia, que se verifica também nos demais cursos da área de humanas, além de denunciar um certo triunfo do pragmatismo imediatista e cientificista, que despreza tudo que não tem uma utilidade imediata ou que não seja passível de controle empírico, reforça a idéia de que, no caso da filosofia, assistimos a morte do desejo do filosofar – enquanto uma experiência que envolve todas as dimensões da existência humana – intelectual, estético-expressiva e ética – e que coloca em questão seu próprio sentido e significado.

Reportando ao poeta Rimbaud, o pensador contemporâneo Alain Badiou, sustenta que o desejo de filosofia contém uma "revolta lógica" - a filosofia está sempre descontente com o mundo tal como ele é. Descontente com as opiniões dominantes. O filósofo é até mesmo descontente consigo mesmo. Mas a revolta filosófica exige a discussão, o diálogo. Ela se submete a uma razão, a uma lógica. Ela busca a construção de argumentos tendo como parâmetro o rigor, a crítica, a radicalidade. Assim, poderíamos dizer, com Badiou, que o desejo de filosofar exige uma revolta que erige uma lei para si mesma. Uma revolta lógica.

Além da revolta e da lógica, outro componente importante no desejo de filosofar é a universalidade e o acaso, o risco, o imprevisível. Ninguém pode negar que há na filosofia um grande desejo de universalidade. A filosofia não é nacional, mas ultrapassa toda cultura particular, toda tradição e seu verdadeiro destino não é a sala de conferência ou de aula, mas a rua, a praça pública, enfim, a cidade. Mas essa universalidade não é dada. Ela supõe uma ruptura, um engajamento, uma aposta. A universalidade está ligada a uma decisão arriscada, onde há um acaso. O desejo filosófico é como um lance de dados. É por isso que o, desejo de filosofia é desejo de universal e, também, sentimento da potência singular do risco e do acaso. Ora, contudo, nossa época é dominada por um ethos[se é que temos algum] oposto ao desejo do filosofar – o ethos movido pela conquista, controle e manipulação de todas as coisas e homens – reduzidos à condição de mercadorias ou ruídos que devem ser banidos para otimização da performance do sistema.

Nosso mundo não gosta da revolta, nem da crítica. Acreditamos levianamente na gestão e na ordem natural das coisas. E buscamos desesperadamente nos adaptar ao deus todo poderoso chamado mercado. Mas nossa época também não gosta da lógica nem da coerência racional, apesar de estarmos sob o domínio planetário do pensamento calculador, que apenas planifica e calcula, mas não pensa. Nosso mundo é o mundo das imagens, o mundo da mídia, instantâneo e incoerente – no qual assistimos a hiper-realização do real na imagem, no espetáculo. É um mundo muito rápido e sem memória. É difícil sustentar uma lógica do pensamento.

Nossa época também não gosta da universalidade. Ou melhor, a única universalidade que reconhecemos é a do dinheiro - o equivalente geral[Marx]. Fora da universalidade do mercado e da moeda, cada um está encerrado em sua tribo[Badiou]. Cada um defende sua particularidade, seu ponto de vista ou de seu grupo, não há diálogo, existem defesas de teses, a falsa universalidade do capital e o gueto das culturas, das classes, das raças, das religiões. Mas o que mais tememos é a aposta, o acaso, o risco, o engajamento, o imprevisível, o evento/acontecimento[Badiou – Deleuze]. Somos todos reféns do próprio medo e obcecados por mais e mais segurança – física e financeira. Cada um deve, o mais cedo possível, calcular e proteger o seu futuro. Mundo da carreira e da repetição, onde o acaso é perigoso e onde não devemos nos abandonar aos encontros.

Portanto, meus caros, a indiferença dos homens em relação a filosofia é tão antiga quanto a própria filosofia, como atestam Heráclito, Sócrates, Platão, etc..Mas nunca a filosofia esteve tão ameaçada quanto nessa época de indigência e penúria em meio a abastança e parafernália tecnológica – época na qual a única coisa para pensar é a própria ausência de pensamento. Daí, a principal questão e tarefa da filosofia hoje é saber como ela pode proteger e salvar o desejo de filosofar? Para tanto é preciso saber quem somos nós e em que ponto estamos? Os quatro grandes movimentos de pensamento que marcam nossa época tem algo a nos ensinar sobre isso: o marxismo[Marx a Althusser], a psicanálise[Freud a Lacan], a fenomenologia[Husserl,Heidegger e Gadamer] e a filosofia analítica.

Mãos a obra senhores professores...


 

Wanderley J. Ferreira Jr.

Filosofia – FE/UFG

terça-feira, 13 de abril de 2010

Reflexões sobre Educação

EDUCAÇÃO E novas tecnologias

Nossa época denominada de pós-moderna, modernidade-tardia e pós-industrial, parece definir-se em reação ao seu outro, que é o moderno. De todos os campos do conhecimento e do fazer humano emergem narrativas que tematizam a chamada crise da modernidade e de seus conceitos chaves, tais como: Razão, Sujeito, Causalidade, Universidade, Identidade, etc. Desconfia-se cada vez mais da existências de um sujeito universal com supostos direitos universais, de um saber universal e de uma ética universal capaz de legitimar as diversas morais num fundamento comum. As experiências traumáticas de duas guerras mundiais, onde a barbárie nazista promoveu o extermínio industrial de pessoas por motivos racistas, fizeram com que os homens do século XX questionassem se realmente existira progresso na história conforme leis lógicas que poderiam ser compreendidas? No campo das ciências assistimos a emergência de novos paradigmas que se opõem a uma visão determinista da natureza e da sociedade. Fala-se não mais da ordem a partir da ordem, mas da ordem a partir do acaso, de desordem organizadoras, de Princípio de Incerteza e complementaridade(Física Quântica), descobrimos que o microcóspico não é simples mais complexo, ou melhor, não existe a estrutura última da matéria, quanto mais aprofundamos no infintiamente pequeno, descobrimos uma realidade que se desdobra em níveis diferentes de complexidade. No plano econômico, observamos a globalização das leis de mercado, que conduz a uma mudança do padrão de produção e consumo. Novas tecnologias afetam o processo de produção e exigem um novo perfil de trabalhador. Observa-se uma intelectualização do processo de produção, implicando o uso de tecnologias sofisticadas e outros meios que exigem habilidades comunicativas, cognitivas e flexibilidade de raciocínio do trabalhador(Libâneo, 1997, p. 2).

Na política, observamos uma subordinação dos interesses políticos nacionais e da própria soberania dos países às leis do mercado mundial, que não conhecem fronteiras. Observa-se uma falência dos movimentos coletivos, dos grandes partidos de massa, e a emergência dos particularismos, dos movimentos minoritários. Percebe-se uma certa tendência de diluição do indivíduo no grupo - a rua, o bairro, o clube, a cidade, o pais, etc. Não se respeita o indivíduo enquanto pessoa humana portadora de direitos universais, mas enquanto membro de um determinado grupo. Por sua vez, os interesses particulares ou de grupos são muito bem representados por políticos espertalhões e inescrupulos que fazem da democracia representativa, pelo menos no Brasil, um jogo cínico em que de 4 em 4 anos, num clima de carnaval, milhões de eleitores legitimam sua situação de opressão e exclusão. No campo ético, a padronização dos hábitos de consumo e de gostos conduz a uma vida moral também descartável(Libâneo, Ibidem.). O respeito ao indivíduo é substituído por um individualismo e um egoísmo que solapam qualquer tentativa de solidariedade entre os indivíduos, gerando uma sociedade dividida, injusta e infeliz.

Em nossa existência cotidiana, cada vez mais percebemos o impacto das novas tecnologias. Novos hábitos de consumo são interiorizados e novas necessidades são criadas por um espetáculo de imagens que hiper-realizam o real. Vivemos num mundo onde os signos substituíram as próprias coisas. É a era do espetáculo. Os meios de comunicação cada vez mais exercem influência sobre a formação de crianças, jovens e adultos, interferindo em suas atitudes diante da vida, da natureza e dos outros. É certo que tais mudanças trazem benefícios, mas que não são compartilhados por todos. Existe uma imensa massa de excluídos, sem relevância econômica que talvez jamais terá acesso aos novos recursos multimídia e de informação. Serão certamente massa de manobra de uma tecnocracia, que subordina o bem estar humano, o respeito à própria vida e à natureza às leis mercadológicas. Podemos identificar algumas características da realidade contemporânea como estratégias de reposição do capitalismo: no plano sócio-econômico, o ajustamento de nossas sociedades à globalização significa a exclusão de 2/3 da população mundial dos direitos básicos de sobrevivência, emprego, saúde, educação, etc. No plano cultural e ético-político, a ideologia neo-liberal prega o individualismo e a naturalização da exclusão social, considerando-a, cinicamente, um sacrifício necessário para o processo de modernização. A educação deixa de ser um direito para transformar-se num serviço, numa mercadoria subordinada às exigências mercadológicas.(Frigotto. Cf. Libâneo, 1997, p.3)

Segundo o prof. Libâneo(1997), diante de tal quadro a Escola e o professor ganham importância, na medida em que a elevação do nível cultural, científico e técnico da população são requisitos indispensáveis , não apenas para diminuir o número de excluídos desse processo de modernização, mas para fazermos de nossos alunos verdadeiros sujeitos desse processo, redirecionando-o para o bem estar do maior número possível de pessoas. Hoje as relações entre os homens, o trabalho e a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. A Escrita, a leitura, a visão, a audição, a criação e a aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançadas. Emerge nesse final do século XX, um conhecimento por simulação que ainda não foi inventariado.

Paradoxalmente, os homens de nosso século não mais acreditam no progresso infinito, e nunca o nosso cotidiano foi tão revirado por metamorfoses técnico-científicas. Não há mais fundo sócio-técnico, mas a cena das mídias. Contudo, esses processos sócio-técnicos raramente são objeto de deliberações tomadas pelo conjunto dos cidadãos. Eles estão nas mãos dos decisores que constituem uma tecnocracia, na medida que ocupam pontos privilegiados nessa malha de informação das sociedades informatizadas. O fato é que o impacto da informática na educação deve ser avaliado tendo em mente que a Escola é uma instituição que a cinco mil anos baseia-se no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, num uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual) supõe o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o que não pode ser feito em alguns anos. Hoje vivemos uma redistribuição da configuração do saber que se havia estabilizado no século XVII com a generalização da impressão . A sucessão da oralidade, da escrita e da informática como modos fundamentais de gestão social do conhecimento não se dá por simples substituição , mas antes por complexificação e deslocamentos de centros de gravidade. O saber oral e os gêneros de conhecimentos fundados sobre a escrita ainda existem é claro, e sem dúvida irão continuar . Não se trata portanto de profetizar uma catástrofe cultural causada pela informatização, mas sim de utilizar os trabalhos recentes da psicologia cognitiva para analisar precisamente a articulação entre gêneros de conhecimentos e tecnologia intelectuais.

Precisamos ter claro que nem a sociedade, nem a filosofia, nem a metafísica, nem a religião, nem a língua, nem mesmo a ciência ou a técnica são forças reais, elas são dimensões de análise, ou seja, abstrações. Os agentes efetivos são indivíduos situados no tempo e no espaço, que abandonam-se aos jogos de paixões e embriagues, às artimanhas do poder e da sedução, aos refinamentos complicados das alianças e das reviravoltas nas alianças. Indivíduos que transmitem uns aos outros, por um sem número de meios, uma infinidade de mensagens que eles se obrigam a truncar, falsear, esquecer e reinterpretar de seu próprio jeito. Esses indivíduos situados, datados, trocam entre si um número infinito de dispositivos materiais e objetos(eis a técnica) que transformam e desviam perpetuamente."Não podemos cair na atitude leviana e simplista que concebe as técnicas antigas como culturais e impregnadas de valores, enquanto a técnica contemporânea seria denunciada como bárbara e contrária à vida. Aqueles que, por exemplo, criticam a informática, não pensariam em condenar a impressão e a escrita(que são técnicas). Isto porque a escrita e a impressão já nos constituem a ponto de não podermos pensar o mundo sem elas. O fato é que a técnica toma parte ativa nas formas de pensar, conhecer e sentir que determinam o modo de ser de determinada coletividade. São através dos artefatos técnicos, como o computar, que estruturamos nossa experiência de um mundo cada vez mais esquadrinhado pelo cálculo.

Vivemos um tempo em que transformações fundamentais ocorrem sob o império da técnica: o desaparecimento do mundo agrícola, o apagamento da distinção cidade/campo e o consequente surgimento de uma rede urbana onipresente, um novo imaginário do espaço e do tempo sob a influência dos meios de transportes rápidos e da organização industrial do trabalho, o deslocamento das atividades econômicas para o terciário e a influência cada vez mais direta da pesquisa científica e seus resultados sobre as atividades produtivas e a vida cotidiana. Ainda não temos, talvez, o devido distanciamento histórico para analisar em todas as suas possibilidades e consequências o impacto dos instrumentos de comunicação audio-visuais e dos computadores e seus recurso multimídia em nossas vidas. Um coisa parece certa, vivemos um desses raros momentos em que a partir de uma nova configuração técnica, ou seja, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade pode ser inventado.

Ref. Bibliográfica:

LEVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

LIBÂNEO, José Carlos. Profissão Professor ou adeus professor, adeus professora?In. EV ENCONTRO DE PLANEJAMENTO INTEGRADO . 30-31Julho/1997 - 1/Agosto/97. UCG.

PRETTO, Nelson de Luca. Uma Escola sem/com Futuro. Campinas: Papirus, 1996.

VALENTE, José Armando. O Uso Inteligente do Computador. In. Ver. Pátio. Ano I, No I, MAI/JUL, 1997.

VEJA ESPECIAL - O COMPUTADOR- Agosto de 1995.

sábado, 10 de abril de 2010

Devaneios matinais em uma manhã de sábado qualquer

Ontem a noite dediquei parte do meu tempo para assistir alguns telejornais. E gostaria de fazer alguns comentários sobre o que vi.

Primeiro, a tragédia no morro do Bumba em Niterói – Mais uma vez a ignorância, miséria alia-se a incompetência e descaso do poder público, particularmente para com os mais humildes.

Diante de tragédias como a do Haiti, Morro do Bumba, e tantas outras que recaem sobre os mais miseráveis, as vezes pergunto – Que Deus sábio e misericordioso é esse, que cada vez mais confirma a tese de que desgraça pouca é bobagem. Nenhum deus criado pelo homem vale sequer a lágrima e o sofrimento de uma criança ou de um miserável qualquer.

De repente, na televisão aparece a figura grotesca, para não dizer patética, de sua excelência Gilmar Mendes falando obviedades acerca da reclamação de Lula contra juízes. O cara aparenta que está numa ressaca eterna e, convenhamos, não tem idoneidade moral para atacar um líder como Lula.

Gilmar Mendes, presidente do STF, é o tipo de autoridade que depõe contra a equação socrático-platônica – conhecimento = virtude. Não passa de um homem instruído no campo jurídico, mas não tem disposição para a prática do Bem ou da virtude. É um canalha arrogante como tantos outros juízos, que fazem do judiciário um dos poderes mais podres e corruptos dessa pseudo-democracia tupiniquim.

Platão equivocou-se ao pensar que aquele que sabe discernir a verdade do erro está apto também a discernir o Bem do Mal, a virtude do vício.

Quando mudo de canal, vejo Dom Marconi em frente ao Crer fazendo propaganda política – o novo de novo não. Não queremos ser assaltados mais uma vez. E aí não aguentei e foi ler Nietzsche.


 

Wanderle Jr.