QUEM SOU?

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Goiania, Brazil
Um homem simplesmente aí, jogado no rio do devir a procura de si mesmo. Um campo de batalha... uma corda sobre o abismo, um ser no mundo corroido pela angustia da certerza da própria morte, mas que faz dessa consciencia da finitude um motivo para se responsabilizar mais por cada uma de suas escolhas.http://lattes.cnpq.br/9298867655795257

quarta-feira, 3 de abril de 2013

SOBRE MINHA OPÇÃO POR FILOSOFIA

Pastores , professores,  políticos, patrões e empregados, pais e mães, todos são cúmplices dessa letargia e alienação que se abate sobre nosso povo que perdeu a capacidade de se indignar e dizer não. Um povo ao qual foi roubado não apenas o direito de falar e pensar, mas de sobreviver dignamente como pessoa humana.  Concordo com o saudoso Betinho quando disse: "Nós nos acostumamos de forma perigosa a conviver com a pobreza e a miséria. Para conviver com isso, ou cada um assume uma cota de cinismo ou cria um estado de consciência, um estado de mudança ou indignação".
Quando li Nietzsche pela primeira vez, disse a mim mesmo – eis um homem que definitivamente escreve com carne e sangue, enfim, que se consume em cada um de seus escritos. Sob os golpes de sua filosofia a marteladas, procurei o caminho tortuoso da filosofia onde muitos se perderam...O próprio Nietzsche reconhecia que seus escritos era uma escola de suspeita, mais também uma escola de coragem e até mesmo de temeridade - Nietzsche ensina-nos o amor fati - uma vontade que quer com alegria, uma vontade trágica que afirma a vida na pura pluralidade do devir. A Vida vale por si mesma. A decadência de nossa época estaria justamente ali, onde se afirma a virtude, a felicidade, o bem, o Belo, a verdade, a justiça, a igualdade, a caridade, a piedade, etc. Nietzsche demonstra que por trás dos valores superiores da humanidade impera uma vontade de fraqueza e forças reativas. E para além dos escombros da moral, da religião e da metafísica, o filósofo anuncia que vê a chegada de um novo tempo, de um novo homem, de uma nova maneira de sentir, pensar e querer... Da ansiedade da espera pelo além-homem, Nietzsche cria para si os Espíritos Livres . Falsidade, delírio de uma mente já doentia. Nietzsche responderia - "De quanta falsidade ainda preciso para me dar o luxo de minha veracidade..? Falando de si mesmo em Ecce Homo, obra em que, para muitos, os sinais da loucura já se manifestam, Nietzsche profetiza - Na antevisão de que dentro em breve  terei de me apresentar à humanidade  como a mais difícil exigência que jamais lhe foi feita, parece-me indispensável dizer quem sou. No fundo se poderia sabê-lo, pois não me deixei sem testemunho. A desproporção, porém, entre a grandeza de minha  tarefa e a pequenez de meus contemporâneos, alcançou sua expressão no fato de que nem ouviram, nem sequer me viram... Ouçam, pois, eu sou tal e tal. Não me confundam, sobretudo....
A última coisa que me proporia seria melhorar a humanidade. Por mim, não são erigidos novos  ídolos; Derrubar  ídolos, isto sim, já faz parte de meu ofício. Privou-se a realidade de seu valor, de seu sentido, de sua veracidade, no mesmo grau em que se mentiu um mundo ideal... o mundo-verdade que se opõe ao mundo aparente... A Mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, com ela a humanidade  mesma se tornou, até  em seus  mais profundos  instintos, mentirosa e falsa... Quem sabe respirar o ar de meus escritos sabe  que é um ar de altitude, um ar forte. É preciso ser feito para ele... O gelo está perto,  a solidão  é descomunal - mas com que traquilidade estão postas  todas as coisas à luz! Com que liberdade se respira! quando se sente  abaixo de si!.. Filosofia, tal como até agora a entendi e vivi, é  a vida voluntária em gelo e altas montanhas - a procura por tudo que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral... Aqui não fala nenhum profeta, nenhum daqueles arrepiantes híbridos de doença e vontade de potência que são chamados fundadores de religiões. É preciso mais que tudo saber ouvir corretamente o tom que vem dessa boca... As palavras mais quietas são as que trazem  a tempestade, Aqui não fala nenhum fanático, aqui não se prega, aqui não se exige crença: de uma infinita  plenitude de luz e profundeza de felicidade cai  gota por gota, palavra por palavra - uma delicada lentidão é a cadência desse falar. Algo assim só chega  aos mais seletos...Nietzsche, o grande sedutor? O Sábio? o Mestre? o Guru? o Santo? o Louco? Ouçamos o nos aconselha Zaratrustra:
"Sozinho vou agora,  meus discípulos! Também vós ide embora, e sozinhos! Assim quero eu... Afastai-vos de mim, defendei-vos de mim!  E, melhor ainda, envergonhai-vos de mim ! Talvez vos tenha enganado.Paga-se se mal a um mestre, quando se continua  sempre a ser apenas o aluno. Vois me venerais, mas,  e se um dia sua veneração desmoronar? Guardai-vos para que não vos esmague uma estátua...Sois meus crentes, mas que importa  toda crença.!
Ainda não vos havíeis procurado, então me encontrastes.Assim fazem todos os crentes. Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes, e somente quando me tiverdes todos renegado, eu retornarei a vós...Com outros olhos eu procurarei os meus perdidos....
Com um outro amor, eu vos amarei então...Quem tem ouvidos, que ouça... [Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.]

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