“O velho mundo morre. O novo tarda
a aparecer. E neste claro-escuro surgem os monstros”
A. Gramsci
Vivemos
sob uma forma nefasta de democracia representativa que se degrada numa oligarquia
corporativista na qual os partidos e os três poderes representam a reunião de
interesses, no mínimo duvidosos, que favorecem a corrupção, o cerceamento da
liberdade e a troca de favores e privilégios entre os poderes e seus
representantes sinistros. Na realidade nossa pseudo-democracia infringe de forma acintosa os princípios básicos de
uma verdadeira democracia, tais como: a igualdade perante a lei [isonomia],
a liberdade de expressão e o reconhecimento do outro cidadão como um igual e
portador dos mesmos direitos e deveres. Partidos políticos, gestores
públicos, parlamentares, todos interessam apenas em descobrir mecanismos, artimanhas,
brechas na lei, para que melhor possam aproveitar da coisa pública
[Res-pública] e conservar o poder satisfazendo seus interesses privados e de
grupos.
Essa
estrutura político-partidária repercute na própria estrutura da sociedade civil – onde certos segmentos da
classe média almejam desesperadamente
ser próximos da anti-elite que detém o poder político e econômico. O
mesmo acontece com segmentos das classes menos favorecidas – que almejam agora
aproximarem-se da classe média, copiando mais seus vícios, como o consumismo,
do que suas raras virtudes. O que presenciamos é uma luta frenética por
ascensão social vista quase que exclusivamente como posse material de bens de
consumo. Consumo, logo sou um cidadão. Assim, uma elite que nao é uma verdadeira
elite, torna-se o objeto desejo da maioria menos favorecida. Existe sim uma
inveja latente no discurso radical e raivoso de certos segmentos sociais quando
atacam o que consideram elite.
No
fundo, para horror do velho Marx, a ideologia fez muito bem seu papel, os
operários um dia almejam ser como seus patrões. O oprimido assume o discurso do
opressor, a ponto de reproduzir o sistema de dominação do qual ele mesmo foi
vítima. As elites brasileiras distingue-se claramente das elites Européias e
Americana. Estas valorizam o trabalho, o mérito e o reconhecimento, nao basta
vegetar à sombra dos poderosos. Será por acaso o fato da Rede Globo ter mais importancia para a
formação da mentalidade média do brasileiro do que as universidades? Nesse
ambiente de frivolidades e inquietação na busca do mais novo, da última moda,
desenvolve-se a moral da indiferença.
A longa
tradição escravocrata habitou nossas pseudo-elites a desprezar os excessos da
classe média e dos mais pobres. Como já disse Euclides da Cunha [Os sertões]. Estamos num país onde
tornou-se comum dizer – Você sabe com quem está falando? Estamos numa
sociedade de pachecos empavesados, acácios triunfantes. Nunca se berrou tanta
asneira debaixo do sol. É asfixiante.
O fato é
que maioria dos políticos e gestores públicos desse país pratica uma baixa
política como se política fosse troca de favores entre compadres. Consequência
– ineficiência da máquina estatal infestada de redes de privilégios e
clientelismo alicerçada na máxima – Nao me dê, coloque-me onde há. No
Brasil é inegável uma certa cultura avessa a civitas. Nos misturamos e juntamos com que nos exclui. Sabemos que
antes alguns negros ao serem libertos tinham como sonho de consumo comprar um
”escravo novinho“. É curta a distancia entre a boquinha aceita por todos como
normal e a corrupçã endêmica. Existe um ethos
encarnado no parasita de plantão e que é
reafirmado pelo otário da vez – todos
querem levar vantagem em tudo. Em tal sociedade é difícil germinar os
ideais republicanos da liberdade, fraternidade e igualdade.
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